30 dezembro 2008

Passagem de Ano

É comum dizer-se nesta altura de cada ano “parece que ainda ontem começou e já está a acabar”. Ao invés, acho que foi um ano bem cheio, que levou o seu tempo a passar. Se tentar recordar a última passagem de ano, não tenho a sensação de que tenha sido há tão pouco tempo assim, tantas foram as voltas que a vida deu entretanto.
Foi no frio que saímos de 2007 (não foi, Justos?) e será no frio que sairemos de 2008. E se há um ano atrás esperávamos que as temperaturas não nos incomodassem demasiado, lá para os lados de Vidago, desta vez vamos propositadamente em busca da neve, pelo que “dava jeito” que o termómetro se afundasse a sério.
E porque "ou vai ou racha", a escolha recaiu na aldeia mais alta de Portugal: Sabugueiro, na Serra da Estrela.
Por isso, amigos, aqui ficam votos de Boa Passagem de Ano e uma Feliz entrada em 2009.
Até para o ano. Se se portarem bem, depois conto como foi. :)

21 dezembro 2008

Fogo, A Mota É Linda

É no estado que a foto retrata que se encontra actualmente a antiga fábrica de motorizadas FAMEL e ZUNDAPP, perto de Águeda.
Sinal dos tempos, as outrora marcas de sucesso não são hoje mais do que uma recordação para os maiores de 30 anos, pelo menos. Em breve será impossível ver nas nossas ruas ou estradas as míticas máquinas conduzidas por bigodudos de fato-macaco sujos de tinta, meias brancas com dupla lista colorida, manchas de pó de cimento e kikos fluorescentes na cabeça com o autocolante da praxe a dizer "Racing".
As próximas gerações não poderão fazer a piada de perguntar o que querem dizer as iniciais FAMEL porque já ninguém conhecerá sequer a marca.
Mais do que brincar com os nossos trolhas motoqueiros, faz-me pena ver que uma região inteira desaparece. Viveu durante décadas da metalo-mecânica e hoje é um amontoado de esqueletos espalhados pela paisagem.
No centro das cidades próximas, as lindas casas antigas estão hoje abandonadas, as janelas e portas dos andares inferiores foram tapadas com tijolos e as dos andares cimeiros servem apenas de fuga para os ramos das árvores que já nasceram no seu interior.
Retratos de um país moribundo.

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08 dezembro 2008

O quarto de vestir

Os meus avós maternos eram transmontanos e eu recordo-me do tempo em que fazer a viagem de carro até à terra deles era um a autêntica aventura, impossível de ser feita sem muita paciência e uma caixa de comprimidos para o enjoo. Curva e contra-curva durante dezenas de infindáveis quilómetros eram um verdadeiro teste à resistência para os passageiros, principalmente os do banco de trás atirados de um lado para o outro do banco de dez em dez metros, ou menos.
Uma pequena parte da família ficou sempre a viver para aqueles lados, o que fez com que fossemos regularmente convidados para casamentos e baptizados. Compravam-se novas roupas, as senhoras escolhiam o melhor penteado e matutavam o que fazer para evitar que a viagem amarrotasse os tecidos das novas toilettes. O calor também não ajudava pois as festas eram invariavelmente no verão e os carros com ar condicionado ainda eram um luxo.
Certa vez, alguém se lembrou que não seria má ideia fazer a viagem com roupas confortáveis e parar alguns quilómetros antes do destino para vestir as da cerimónia. E assim se criou um hábito. A paragem, combinada com os vários carros que faziam a viagem juntos era feita numa velha casa de cantoneiro na berma da estrada.
Uns anos mais tarde foi reconstruída e recentemente fui reencontrá-la moribunda no mesmo local onde sempre esteve: a alguns quilómetros da chegada a Mesão Frio.

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