08 dezembro 2008

O quarto de vestir

Os meus avós maternos eram transmontanos e eu recordo-me do tempo em que fazer a viagem de carro até à terra deles era um a autêntica aventura, impossível de ser feita sem muita paciência e uma caixa de comprimidos para o enjoo. Curva e contra-curva durante dezenas de infindáveis quilómetros eram um verdadeiro teste à resistência para os passageiros, principalmente os do banco de trás atirados de um lado para o outro do banco de dez em dez metros, ou menos.
Uma pequena parte da família ficou sempre a viver para aqueles lados, o que fez com que fossemos regularmente convidados para casamentos e baptizados. Compravam-se novas roupas, as senhoras escolhiam o melhor penteado e matutavam o que fazer para evitar que a viagem amarrotasse os tecidos das novas toilettes. O calor também não ajudava pois as festas eram invariavelmente no verão e os carros com ar condicionado ainda eram um luxo.
Certa vez, alguém se lembrou que não seria má ideia fazer a viagem com roupas confortáveis e parar alguns quilómetros antes do destino para vestir as da cerimónia. E assim se criou um hábito. A paragem, combinada com os vários carros que faziam a viagem juntos era feita numa velha casa de cantoneiro na berma da estrada.
Uns anos mais tarde foi reconstruída e recentemente fui reencontrá-la moribunda no mesmo local onde sempre esteve: a alguns quilómetros da chegada a Mesão Frio.

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4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ah... este teu regresso fez-me fazer também a mim uma viagem de regresso. Como eu conheço bem essa casinha, apesar de nunca ter entrado nela para mudar de roupa!!! Era um marco para mim. Quando a via, sabia que estávamos perto do nosso destino: a Régua. Recordo bem o itinerário e os enjoos e os sacos de plástico para os casos de emergência (podia não haver tempo para encostar o carro...). Mas sobretudo a paisagem, as encostas e o rio que me viram nascer.
Obrigada por me teres levado contigo, sem o saberes, neste teu regresso ao quarto de vestir.

beijo

8/12/08 20:45  
Blogger Eudemim said...

É uma casa portuguesa concerteza, é concerteza uma casa portuguesa...
Os grafites é que não combinam nada, mas enfim...
Que boas estas viagens por Portugal.

Bjs daqui

9/12/08 15:12  
Anonymous Anónimo said...

A minha terra tem mesmo magia, nunca nos conseguimos separar dela.
Obrigada por me teres levado a viajar até ao meu baú de memórias e de alegrias. Aquele baú onde guardamos os nossos bens mais preciosos, como um seixinho do mar, os grãos de pensamento, os sorrisos do passado, os sonhos por sonhar… O olhar lindo e doce da minha avó que me contava histórias que me faziam viajar.
Obrigada por este regresso às minhas raízes.
Bj.

10/12/08 10:19  
Anonymous Anónimo said...

De certeza que isto não é uma sala de chuto??


Fialho

10/1/09 13:55  

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