A caixa esquecida
Há algum tempo atrás o meu sogro ofereceu ao Marcelo um saco com um “monte” de bonecos de borracha que foi comprando ao longo dos anos para os filhos e que, quando eles cresceram, decidiu guardar para os netos um dia também brincarem. Estão lá entre outros a Heidi, o Marco, o Vicky e até duas balizas com os jogadores do Porto, daqueles que enfeitam o bolo em forma de campo de futebol num qualquer aniversário.
A primeira utilidade dos bonecos foi de ajudarem a entreter o Marcelo enquanto comia a sopa. Depois, quando já tinham perdido essa eficácia, foram guardados numa caixa de latão dentro de um armário. De vez em quando, o Marcelo ia concedendo aos seus amiguinhos o direito de respirarem um pouco de ar enquanto matava saudades deles, mas depressa voltavam para a sua clausura. Até que um dia por lá ficaram, votados ao esquecimento, preteridos a favor de um novo brinquedo favorito: os puzzles.
Esta semana, andava ele à procura de um jogo para se entreter e encontrou a caixa. A alegria dele foi indescritível.
- Olha este!...
- Hiiii, pá!
- E este!...
- Olha, papá, olha!!!
Para um adulto, esta sensação só deve ser comparável a um jantar de antigos colegas de escola que não se vêm há muitos anos e neste caso, ao Marcelo só lhe faltaram alguns comentários do tipo:
- É pá, ó Vicky, tás mais gordo!
- E tu, Heidi, já tens filhos?
- O quê? A abelha Maia teve um filho do Calimero!!!
- E tu Cocas, casaste com a Miss Piggy?
- Isto ainda vai dar molho, diz para rematar um dos velhos marretas.
Isto já é a imaginação a trabalhar mas o que importa realmente é que a alegria do Marcelo fez-me regressar à minha infância quando tinha brinquedos espalhados pela casa dos meus pais e pela dos meus avós, por todo o lado, até pelo quintal e de vez em quando descobria algures uma caixa, esquecida há tempos, que me proporcionava sempre novas emoções com velhos amigos.
Quem nunca encontrou uma caixa esquecida?