16 dezembro 2009

O jogo do amigo

Durante a minha adolescência passei tardes inteiras com um amigo a jogar Estratégia. Jogava-se num tabuleiro de casas, tipo xadrez mas maior, com a diferença das peças só estarem identificadas pelo próprio jogador. Das peças do adversário só se viam as costas e tanto podia ser um canhão como um soldado ou general.
Todos os invernos, e mais do que uma vez, esse meu amigo passava uma semana de cama a curar repetidas amigdalites que não o largavam.
Era a desculpa ideal para eu dar uns tiros às aulas mais chatas e lá ia eu, que nem um ferrinho, fazer-lhe companhia enquanto inventava novas formas de colocar os meus guerreiros na tentativa de derrotar a armada dele, o que, justiça seja feita acontecia poucas vezes. Mas não se deve contrariar um doente, não é?
Passei todos estes anos a falar disto vezes sem conta e pelo que sei, o jogo dele desapareceu. Fiz tudo para conseguir saber a marca ou o fabricante do jogo para comprar um igual, sem nunca conseguir.
Hoje, numa loja, enquanto esperava numa caixa de pagamento, olhei distraidamente em frente e vi numa prateleira “o” jogo. Ali estava ele, desafiador, a perguntar-me: “Como é, tantos anos para ficares a olhar de boca aberta? Não me levas contigo? Aproveita que é Natal!”
No dia 25 vou abri-lo, jogar com quem quiser fazer-me companhia enquanto espero que os meus filhos tenham idade para me defrontar.
E quem sabe se um dia destes não o vou jogar com o mesmo amigo?