25 abril 2007

Agitando as águas...

Não gosto de falar de política mas esta data é propícia. Espero que algumas ideias que aqui vou partilhar não firam quaisquer susceptibilidades. No entanto, já estou habituado às reacções que por vezes estes meus Regressos suscitam e os comentários são bem-vindos.
Faço parte de uma geração que mal se apercebeu do que estava a acontecer no 25 de Abril de 1974 e nos dias que se seguiram. Como qualquer miúdo de 8 anos não tinha idade para perceber e muito menos para tomar partido fosse de quem fosse. Vivia então uma infância muito feliz em Luanda e para mim a revolução foi principalmente o princípio do fim:

- o fim da paz – com a revolução chegou a luta armada a Luanda, o não poder ir brincar para o quintal pois “andavam aos tiros”, a partida, a recepção execrável dos retornados pelas suas próprias famílias e amigos;

- o fim de uma época – o tempo das colónias tinha que acabar, os povos tinham direito à sua independência mas tudo poderia ter sido feito de outra maneira;

- o fim de um país – os angolanos dizem-se felizes com a autodeterminação mas na actualidade, um dos países mais ricos do mundo vive em extrema pobreza, liderado por um ditador dono de uma fortuna incalculável;

- o fim de um sonho – para tantos que consideravam aquele país como seu, embora não tivessem lá nascido;

- o fim de uma identidade – para nós que lá nascemos e de lá fomos arrancados.

Hoje, 33 anos depois, a política não me interessa minimamente por muito redutora que esta minha posição possa parecer. Rosas, laranjas, vermelhos, azuis, verdes ou roxos, os políticos são sobretudo uma “cam(b)ada” de aproveitadores que um dia foram legalmente autorizados pelos seus eleitores a roubar até não poderem mais. Enquanto não encontram um poleiro à sua medida juram ser os mais honestos mas logo que se acomodam confortavelmente na poltrona esgravatam à sua volta até conseguirem comer a mais ínfima migalha. Isto claro, depois de já se terem banqueteado com os melhores nacos (carros, casas, viagens, etc).

Mas, voltando ao tema do dia, sempre ouvi e li ao longo da minha vida (recordo que não estava cá para presenciar) que o povo português viveu durante décadas na mais difícil opressão, tristeza e falta de condições mínimas de vida. Não duvido que tenha sido cruel e por isso todos os anos se homenageiam os heróis de Abril, revêem-se os mesmos filmes na televisão e entrevistam-se as mesmas pessoas que participaram de alguma forma nos acontecimentos.

À partida, a conclusão lógica seria: ainda bem que a revolução aconteceu porque o saldo foi positivo. Foi o fim da ligação a África mas trouxe-nos a liberdade, com tudo o que de bom e de mau veio com ela.

Mas contudo interrogo-me: como é que apesar de tudo isto os portugueses puderam eleger o Salazar como o maior de todos eles?

Memória curta ou saudades escondidas?

P.S. Dois anos sem fumar, é obra. Parabéns a mim. Obrigado.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este regresso foi bom, diria mesmo, muito bom!
Não poderia estar mais de acordo contigo, do príncipio ao fim, conquanto não tivesse nascido em nenhuma das ex-colónias, mas vivi em Angola quase 2 anos.
Se quizesse corroborar-te como o mereces teríamos que encher umas tantas outras páginas; ah é verdade, no 25 eu já tinha os meus 21 ou 22 anos.
E ainda outro "Ah, é verdade" parabéns também pelos 2 anos de despoluição.
Aquele abraço
Sérgio

26/4/07 10:58  
Anonymous Anónimo said...

Olà Zu!
Parabens pelos 2 anos em que és não fumador. É um feito memorável, pelo menos no meu entender, uma vez que eu não consigo deixar de fumar.
Quanto ao resto não me pronuncio, uma vez que era ainda mas nova do que tu e não tenho quaisquer memorias da ditadura. Só me posso limitar a ouvir as memórias daqueles que a viveram.
De qualquer forma, penso que é como tudo, teve coisas boas e coisas más, exactamente como a democracia.
Não te podes esquecer, no entanto, que se não fosse o fim da ditadura, nunca tinhas vindo para Portugal, logo não me terias conhecido e não tinhas também os dosi filhos fantásticos que tens!!
Beijo
ie

26/4/07 17:23  
Anonymous Anónimo said...

Mano! Somos o resultado das escolhas que fazemos, assim são os países e seus povos, há quem diga que a colonização portuguesa foi especial, diferente, assim foi a sua revolução, especial e diferente, o resultado de ambas, para não fugir à regra, também teve o seu "quê" de diferente salpicado aqui e ali de alguma especialidade, no entanto que diferentes especialidades ou ainda que especiais diferenças nos ou vos relançaram os respectivos futuros? “Depois do Adeus” nem dum lado nem do outro se atingiram os objectivos, enquanto contra qualquer expectativa, de um lado, vence o Salazar, do outro questiona-se por bocas castigadas pela decepção, quando é que a independência acaba?
e assim se fazem 33 anos disto que nos abrigam a aceitar enquanto alguns distraídos, saem à rua para comemorar.
A distancia que existe entre o que é e o que podia ter sido, é a mesma que encontramos entre Norton de Matos e o seu sonho edílico de mudar a capital do império para a então Nova Lisboa e Mário Soares com as suas infelizes tiradas como a que regurgitou á revista alemã "Spiegel" corria o ano de 1974 «Em caso de emergência, atiraremos sobre os colonos brancos» não fossem estes estragar o negócio que foi a venda, em convenientes talhões, do que foram as colónias.

Quanto a mim e à minha humilde opinião resta-me afirmar sempre que para isso me dão espaço, que pena não ter sido no dia 26, teríamos tido mais tempo para pensar e teríamos, com certeza, feito muito menos asneiras.

Ainda assim...

Viva o 25 de Abril

27/4/07 07:10  
Anonymous Anónimo said...

gostei do texto, 1 antes e 1 depois muito bem visto.
mas escrevo-te pelo teu p.s.
eu, como te deves lembrar, fumava e nao era pouco. pois ja la vao 1 ano e 7 meses que me livrei do "golden american". fiquei a saber que tu idem.
1 abraço e parabens

27/4/07 18:47  
Anonymous Anónimo said...

Parabéns pelos dois anos de liberdade! Para quem, como eu, ainda sofre na pele com a brutal ditadura da nicotina, essa é, de facto, uma grande revolução. A ver vamos quando é que eu me insurjo também...

30/4/07 11:52  
Blogger Pedro said...

amigo! nao sei o que te fez decidir parar, mas parabens por teres a capacidade de dizer "agora vou deixar de fumar" e feze-lo, apesar do habito e da envolvencia social que produz o acto de fumar.
Sobre a vitoria do ditador, naquele consurso de televisao, nao sei como isto nao foi clarividente: nao foi mais do que marketing da RTP para a serie que começou pouco tempo depois sobre os anos 60!... :P

9/5/07 23:18  

Enviar um comentário

<< Home