04 dezembro 2006

O que fazer sem internet?

1992
Acordo e preparo-me para ir para a faculdade. A rádio noticia que a agência Lusa acaba de anunciar um atentado ocorrido ontem à tarde em Roma.
Enquanto espero que o leite amoleça os cereais, seguro a cabeça para que não volte a adormecer em cima da mesa, tal é o entusiasmo de estar acordado a esta hora.
Pego na pasta e saio de casa, onde volto ao fim de meia hora, porque depois de ter estado à espera do autocarro, reparei que me tinha esquecido do passe.
Quando chego à faculdade a primeira coisa que faço, depois de tomar um café no bar, é verificar que os meus colegas estão todos sós e salvos, pois tenho receio das consequências dos desvarios etílicos da nossa saída de ontem à noite.
Podia ir agora às aulas mas ficaria com a manhã perdida, pois são mais de quatro ou cinco. Vou guardando os apontamentos e aproveito os fins-de-semana para limpar.
Sou interrompido por um parceiro que me pergunta se o ás de paus já saiu e para tirar a dúvida resolvo pedir a opinião de um colega. Através de um sinal, faço a ligação porque de outra forma a jogada me poderia custar “apenas” meia semanada.
Entretanto toca o bip e como ainda estou meio da jogada, deixo tocar, pois mais tarde poderei ligar. Assim não há queixas do género: “Liguei-te mas não atendeste”. Atendo sempre, logo que posso.
De repente, lembro-me que falta preparar um tema para a aula da tarde e vou rapidamente à biblioteca. Pesquiso alguns livros sobre jogos de cartas, depois de não conseguir esclarecer uma dúvida sobre economia porque o livro que queria não está disponível.
2006 Dezembro
Acordo e deixo que o rádio me actualize sobre os últimos acontecimentos do mundo, mesmo os que aconteceram há apenas poucos minutos. Visto o fato de treino e aproveito para carregar novas músicas no leitor de MP3 que me faz companhia durante a minha caminhada matinal.
Regresso a casa para um banho retemperador e enquanto espero que o leite amoleça os cereais dou uma vista de olhos aos jornais diários na Internet.
A caminho do escritório toca o telemóvel, que atendo depois de colocar o auricular sem fios para que não me apanhem a jeito de uma multa.
Quando chego ao escritório a primeira coisa que faço, depois de ligar o computador, é verificar os novos e-mails, dar seguimento aos de carácter profissional e enviar para a pasta “Ver Mais Tarde” os que são apenas de entretenimento. Podia vê-los agora mas ficaria com a manhã perdida, pois são mais de cinquenta. Vou guardando e aproveito os fins-de-semana para limpar.
Sou interrompido por um cliente que me contacta para tirar uma dúvida através do Messenger. A questão pode ser interpretada de várias maneiras e resolvo pedir a opinião de um colega. Através do Voip, faço a ligação telefónica que, assim, me vai custar “apenas” zero cêntimos.
Entretanto toca o telemóvel e como ainda estou ao telefone, deixo reencaminhar a chamada para o telemóvel do escritório, que alguém se encarregará de atender. Assim não há queixas do género: “Liguei-te mas não atendeste”.
De repente, lembro-me que falta preparar um tema para o programa didáctico do meu filho e vou rapidamente à Internet pesquisar algumas imagens para imprimir, depois de esclarecer uma dúvida sobre o tema na enciclopédia on-line.
Ainda só são 10 horas da manhã e lembro-me de repente do meu Mano em Luanda, sem Internet há mais de uma semana. Como é que se trabalharia cá, uma semana sem ligação?

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Podia dizer-te que, de facto, a vida agora é bem melhor. Valha a verdade, se não fosse a net não teria lido o teu texto. Talvez tu nem o tivesses escrito. E eu não estaria agora a fazer este comentário. Mas também não percebo porque é que cada vez mais nos queixamos da falta de tempo. E da solidão. E da distância. E da ausência.


bjs

4/12/06 18:23  
Blogger ponto azul said...

Sinceramente não iria sentir muita falta...enfim, se não fosse mais de 2 semanas!Trabalho todos os dias com o pc e enjoo se nos meus tempos livres estiver a olhar para ele!Prefiro ler ou ouvir música...Bjs :-)

6/12/06 15:23  

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