09 fevereiro 2007

A velhinha no meio dos "marmanjões"

Embora simples amador sem aspirações a mais do que isso, gosto muito de fotografia. Não domino a sua técnica mas gosto de passear de máquina em punho e registar momentos e curiosidades.
Um dia destes, junto à praia em Matosinhos, reparei numa casa antiga, isolada no meio de prédios mais recentes, mais altos e mais feios. Parece pedir a quem nela repara que a ajude a convencer os seus altos e dominadores vizinhos a conceder-lhe o ar de que tanto precisa para respirar.
Concentrei-me na imagem e deixei que a imaginação me levasse trinta a quarenta anos atrás no tempo. As crianças que lá viveram a sua infância devem ter hoje a minha idade. Certamente brincaram nas ruas envolventes, jogaram à bola nos passeios largos, magoaram os joelhos ao cair da bicicleta nas corridas com os amigos… As famílias vizinhas conheciam-se entre si, cumprimentavam-se e trocavam impressões sobre o tempo ou confidenciavam-se segredos à medida que os anos iam passando e criando confiança de parte a parte. Ao fim da tarde os miúdos de todas as casas eram chamados para o banho para estarem prontos quando o pai chegasse para jantar. Apressavam-se então a engolir a refeição, principalmente durante os meses mais quentes do ano em que os pais os deixavam ir brincar até ficar escuro.
De repente revi a minha infância ao imaginar a vida daquela rua que outrora devia ter uma quantidade de casas como esta que sobrevive sem que se saiba como, numa floresta de torres onde ninguém sabe o nome do vizinho do lado.
O mais certo é lá morar um casal de idosos cujos filhos também moram numa torre e que se deve sentir tão só na sua casa quanto ela própria se sente só na sua rua.